Algumas pessoas me perguntaram sobre como foi a experiência vivencial de auto-conhecimento de que participei nesse final de semana, em comemoração de meu aniversário.
Apesar de ser um pouco impessoal, vai ficar mais objetivo contar uma única história, porque depois de ter contado uma vez, e em seguida ter recontado mais umas 10, percebi que bastava terminar para lembrar de algo a acrescentar.

Pouparei alguns detalhes que não fazem diferença. A experiência foi um presente do cunhado Juliano. O mais legal é que ele nem sabia que coincidiria com meu aniversário quando decidiu me presentear, ou seja, um acaso providencial, em que eu completei um número redondo. Aliás sobre números eu postei no FaceBook no dia 18 mesmo o que penso, não repetirei aqui.

A experiência consistiu em uma jornada de 3 dias de rituais cerimonialísticos no espaço Reconexão Tríade – interior de São Paulo, orientados por meio de práticas da floresta, para ampliar os canais de percepção, enfrentar os medos e os piores demônios, identificar pontos fortes a explorar para enfrentar os desafios, despertar e projetar aspectos adormecidos da consciência e da auto-consciência.

O local é um sítio afastado da cidade de Embu-Guaçu, num lindo vale com 3 lagos, onde o único sinal de celular que chega, e chega bem fraco, é o da Vivo, mas só se você subir no mais alto Pinheiro no alto de um pequeno monte. Ocorre que você não pode participar da experiência se não deixar o celular no cofre na recepção do sítio, durante estes 3 dias, trata-se de desintoxicação tecnoçogica; tremendo desafio para quem, como eu, é escravo dessas coisinhas retangulares e luminosas de bolsa e de bolso.

Não espere por luxo; eu esperava. Não espere por uma suíte, nem mesmo uma simples, com banheiro privativo. Dividi um pequeno quarto com duas beliches e mais nada e o banheiro que utilizei, era compartilhado com mais 15 pessoas.

Não há mercado perto do sítio. Aliás, não há mercado, venda, armazém, quitanda, feira livre, nem mesmo um boteco com uma mesa de bilhar com o veludo verde rasgado e uma lâmpada de 40W.

Nada. Nadinha de nada por perto. Você e o silêncio de mais cerca de 120 pessoas, jovens, adultos, crianças. O luxo pelo qual esperava não fez falta. Nem lembrei que esperava por isso quando embarcava de volta para casa.

Descrever o que vivi, junto com mais 33 novatos e novatas, alguns veteranos e um grupo gentil de anjos e anjas da guarda, que recebem lá o apelido de Voluntários, não é significativo, uma vez que a experiência de cada pessoa é única. Trata-se de auto-conhecimento e cada um e uma de nós tem uma vida única.
A cerimônia consiste basicamente em mudar as vibrações de ondas mentais, por meio de sons – músicas especialmente selecionadas numa sequência, de acordo com cada momento – cantos em diferentes idiomas, decoração minimalista do espaço, para que se mantenha o foco, bebidas preparadas com chás de ervas da floresta amazônica e frutas pequenas porções de frutas frescas. O transe é garantido por meio da criação das condições favoráveis aos canais de percepção e dos sentido.
Foi um total de 3 rituais em 3 dias, sendo um na noite de sexta para a manhã de sábado, um na tarde para noite de sábado e um da noite de sábado para o meio da manhã de domingo.

A noção de tempo durante os cerimoniais é – ou foi para mim – bastante distorcido, a ponto de em alguns momentos eu não saber identificar de imediato qual era o dia, nem se era dia ou noite.
Como disse, não mencionarei detalhes do ritual, que segue um roteiro muito bem organizado, nem do que vivi, por ser uma experiência única, a ser vivida individualmente, mas creio que não cometerei um pecado se compartilhar um dos aprendizados que trouxe comigo.

São 4 frases curtas, escritas numa placa no ambiente onde eram servidas as refeiçoes, e tem a ver com Gratidão. O que está entre parênteses depois de cada frase foi acrescentado por mim :

Sinto Muito (por tudo o que eu tenha feito e que possa ter magoado, machucado ou decepcionado você)

Me Perdoe (por ter feito isso que/se magoou ou machucou ou decepcionou)

Amo Você (nas diferentes maneiras que há de se amar)

Sou Grato (pelo que me ensinou, pelo que não me ensinou e me obriguei a aprender, por fazer parte da minha história, por me perdoar e mesmo que não perdoe por eu receber esta lição

Eu sou do tipo de pessoa que já zombou dos excessos de Gratidão que leio nas redes sociais, devido achar ser exagerado, e de fato percebi que eu não entendia Gratidão por talvez nunca ter sido verdadeiramente Grato, ou por me recusar a sê-lo.
Quando você está sozinho, no escuro, e alguém – um jovem, uma jovem que não conhece você – que poderia estar num barzinho, numa balada numa noite de sexta, vem te ajudar espontaneamente, apenas por que quis fazer isso, você começa a entender o que é Gratidão; e o detalhe é que na situação em que você se encontra, não é nem mesmo possível que você agradeça depois, porque não dá para ver quem ajudou você, foi uma entrega totalmente desinteressada, numa situação em que eu jamais me vi antes.
Quando você projeta sua vida e se dá conta das pessoas que já magoou ou pode ter magoado, e estas pessoas continuam ao seu lado, desinteressadamente, apenas porque amam você, de novo você começa a ter uma noção leve do que seja a Gratidão.

Não se trata de abraçar coqueiros e dizer que entrou em sintonia com a Natureza, mas você abraçou seus medos, mancadas, pisadas na bola e iniciou um processo de entrar em sintonia com você mesmo.
A cada final de ritual cada Novata e Novato prestava um breve depoimento (ok, quem me conhece sabe que não sei ser breve, mas fui menos prolixo que o normal). Todos carregados de emoção, de reconhecimento da mudança pessoal, das perspectiva de fazer algo novo por si e pelas pessoas ao redor, e sempre e sempre, Gratidão.

Meu último depoimento lá declarado, quero compartilhar – pelo menos a parte que lembro – para que eu recorra a ele todas as vezes em que eu entender necessário.

E segue:
“Já chorei de tristeza muitas vezes, igual a todo mundo; e também igual a todo mundo algumas vezes chorei de alegria; aqui, pela primeira vez, eu chorei por Gratidão.

Sou grato às pessoas que me conduziram no ritual pelos 3 dias, aos Voluntários e Voluntárias que me deram suporte todas as vezes em que precisei, e sou imensamente grato a muitas pessoas em minha vida, que mesmo depois de coisas que fiz, e não me orgulho por ter feito, continuam a fazer parte de minha vida.
Esta noite mesmo, eu contei uma 15 vezes em que pedi ajuda para ir até o banheiro – o chá faz com que você perdesse um pouco – mentira, perdesse bastante – noção de espaço e de equilíbrio. Como contei 15 vezes, então não ter ter sido mais do que 10 ou 12, ainda assim, o jovem que me acompanhou todas as vezes teve uma paciência imensa, indo no meu ritmo extremamente lento, no percurso de uns 20 a 25 metros, para esperar em todas as vezes, após alguns minutos, que eu saísse e repetisse: não foi agora que fiz xixi. É muito estranho, mas eu me sentia totalmente seco, desidratado, não tinha xixi para sair, mas uma tremenda vontade.
Estar aqui hoje é um presente do Universo. Não me refiro à presença atual, mas ter chegado até aqui depois de 4,5 bilhões de anos da história desse planeta.

Que quantidade incrível de eventos ocorreram, se sucederam e se combinaram para que eu existisse: Big Bang, Meteoros, Vulcões, Tsunamis, Guerras, Pragas, Epidemias, e toda minha ancestralidade sobreviveu a isso. Bastaria um girino não ter vingado em algum momento da história e eu não estaria aqui; bastaria que aquele girino que vingou e se transformou numa rã não tivesse dado um salto apenas 3 centímetros mais longo para fugir de um predador, e eu não estaria aqui.
Meus ancestrais sobreviveram à escassez de comida, ao frio de eras glaciais, ao desemprego, às guerras e à toda a sorte de desafios, e eu estou aqui hoje, e sou grato. Devo ter protetores num plano que sempre olharam por mim, de novo sou Grato. Meus ancestrais e protetores acreditaram em mim, apesar de mim. Não posso decepcioná-los e nem a mim.

Tenho que ser uma pessoa que mereça tudo o que foi feito,e que o esforço deles tenha valido a pena, em respeito a eles. E é assim que eu quero passar o bastão adiante e ser motivo de orgulho para meus descendentes, sem a pretensão de virar nome de rua, mas sim um pequeno pontinho no meio do caminho, que conecta o passado com o futuro, as duas pontas de uma história muito bonita.
Renasci.
E para que Você e Eu sempre nos lembremos:

Sinto Muito

Me Perdoe

Amo Você

Sou Grato. Sou Muito Grato”

Esse meu relato ou o que me lembro dele.

Se você pensar em algum momento passar por esta experiência, quero dizer duas coisas:

_ Certamente minha química interna ainda está sob algum efeito residual dos chás, e estou mais sentimental que o normal, não posso afirmar que isso permanecerá assim, por quanto tempo vai permanecer e caso permaneça, com qual intensidade

_ Eu posso recomendar a experiência, mas sugiro me chamar de novo em 15 ou 20 dias, quando já terei assimilado tudo, aplicado uma parte e avaliado alguns resultados. Se eu não tiver outra oportunidade para falar com você, então a recomendação nesse momento é: Sim, Viva esta experiência.

Você vai conhecer um outro Você e vai se surpreender com isso!