O dia em que Jô do Corinthians incorporou o espírito iluminado de Maradona Mano de Dios, e definiu como Convicção o que deveria ser Caráter.

Não consigo avaliar o tamanho de sua paixão por futebol, mas é inegável tratar-se de algo abrangente nessas terras. A minha paixão de torcedor é minúscula, mas gosto do que desse esporte se pode extrair.

Uma interessante lição foi dada ontem (17.09.17) pelo Jô, atacante do Corinthians, que ao final da partida vencida por 1×0 contra o Vasco, com gol irregular, feito com o braço, afirmou: “se eu tivesse convicção de que foi com a mão, eu falaria”. O que será necessário para que uma pessoa tenha plena convicção de que tocou uma bola de futebol ou qualquer objeto daquela dimensão com a mão?

Em que pese a falta de sensibilidade tátil do atleta, bem como a falta do tato de um profissional de media training que o aconselhasse a não se pronunciar de modo tão comprometedor, consideradas as 18 câmeras em campo, dotadas de recursos capazes de substituir a falta de convicção do atleta, erraram ainda o juiz de linha, distante não mais que 5 metros do lance e o árbitro oficial, muito próximo da jogada.

Eu me refiro ao futebol por sua abrangência e, sei que você concorda, fica mais fácil ilustrar uma história. Recentemente comentei também por aqui dois casos que permeiam esse tipo de conduta:

O primeiro foi o jogador Keno, do Palmeiras (time pelo qual torço de modo bissexto), que induziu o juiz de uma partida conta o Corinthians (coincidência?) a erro, que resultou na expulsão indevida do jogador Gabriel.

O segundo  caso foi o do jogador Rodrigo Caio do São Paulo, que em uma partida contra o Corinthians (epa, de novo!) trombou involuntariamente com o goleiro Renan de seu time, num lance junto com o Jô (xiii). Juiz e bandeirinha acusaram falta do atleta corintiano, que se confirmada seria punida com cartão amarelo, tirando Jô da partida seguinte do seu time. Ao perceber que o colega de profissão seria prejudicado, Rodrigo Caio chamou o juiz e acusou-se pelo choque, o juiz retirou o cartão e agradeceu pela conduta do jogador.

Foi uma atitude tão surpreendente, que o próprio técnico do São Paulo à época (Ceni) relutou em aceitar e elogiar. Sabe qual foi a reação do Jô? “Rodrigo Caio teve uma atitude de homem”. A mesma que lhe faltou ontem, nem que fosse apenas depois do jogo, depois mesmo do estrago feito.

Ok, alguns dirão: “e o gol la mano de Dios de Maradona, na final da copa de 1986 contra a Inglaterra?”. Não sei você, eu não sentiria orgulho disso, mesmo tratando-se de um esporte que envolve altas doses de paixão, e eu já confessei a extensão da minha.

Existe também a turma do “brasileiro é malandro e futebol é malandragem”. Sobram os “ganhar roubado é mais gostoso”.

Não sou tão ingênuo quanto a abordagem desse texto pode fazer supor. Eu também sei que a tartaruga ganha da lebre só nas fábulas. O mundo real é recheado de exemplos de falta de caráter, de espionagem industrial, de traições e por aí vai.

No calor de qualquer situação mais tensa, entre elas uma partida de futebol, uma decisão incorreta tomada na hora pode sim ser revista depois, com reflexão, uma opinião pode mudar. Às vezes um resultado ficará comprometido, como foi na partida de ontem, mas a imagem do profissional ficará menos manchada. E obter resultado a qualquer preço é um preço muito alto a pagar. E, é bom lembrar, que nosso time seja campeão por mérito.

Muitos apaixonados torcedores do Corinthians comentaram em meu post no FaceBook sobre esse mesmo assunto coisas como: “O que fica na história é o resultado.” Eu não direi que torço para que convivam bem com isso, seria mentira. Torço para que seja um tremendo incômodo.

Para mim, além do resultado, fica estampada a envergadura moral do profissional em situações de decisão, ou a Convicção, como ele disse, que dá para traduzir por Caráter, como eu prefiro.

O sentimento é muito parecido com o da indignação com o momento político pelo qual passamos. Não existem meia indignação, meia liberdade, meia democracia nem meia virgindade.

E saindo literalmente do campo do futebol, olhe para o seu time e avalie quais poderiam ser as atitudes de seus craques mais valiosos diante de uma situação desse tipo. Reflita bem, afinal, você é o técnico, qualquer que seja o resultado, estará para sempre associado a Você.

Boa Semana! Bom Jogo para o seu Time!