Você conhece indicadores para avaliar o potencial criativo dos profissionais de sua empresa?

Numa aula que ministrava para uma turma de MBA em Gerenciamento Público Colaborativo na cidade de São Paulo em 2004, um dos alunos, secretário de educação de uma cidade vizinha perguntou:

– Humberto, eu já entendi, todas as pessoas são criativas, no entanto nem sempre exploram todo o seu potencial criativo, mas e se eu quisesse medir o potencial de cada pessoa da minha equipe e mapear o potencial de uma área, departamento ou toda a secretaria, como seria feito isso?

Foi uma pergunta intrigante. Eu estudava criatividade já havia 28 anos; trabalhava com a mudança de modelo mental do indivíduo para a aceitação de que somos pessoas criativas, mas nunca havia descido ao nível de detalhe de medir esse potencial.

A resposta naquele momento:

– Eu ainda não tenho definitivo para mim se a criatividade é um processo heurístico ou algorítmico. Tenho a preferência pessoal de crer no modelo algorítmico, mas não tenho agora argumentos para sustentar ou defender. Se for algorítmico, certamente há uma maneira bem definida de medir; se for heurístico, eu penso que dependeremos de processos mais intrincados com base na psicologia do comportamento.

Em seguida argumentei que apesar de a resposta ter sido quase uma evasão, representava, naquele momento, a minha percepção, mas que ela carecia de ir além, o que eu prometi, faria para a aula seguinte.

Na quinzena até a aula presencial seguinte daquela turma usei parte valiosa de meu tempo para investigar, até chegar às pesquisas de Torrance “Criatividade: Medidas, Testes e Avaliações”. E, sim, havia como medir.

Os testes e avaliações passavam por primeiro questionar as medidas tradicionais acerca do talento intelectual e ajustes de personalidade, que por si desconsideravam as ainda não estabelecidas inteligências múltiplas que Howard Gardner propusera em 1985, com seu livro “Estruturas da Mente”. Torrance pensava em termos quantitativos, ainda que a expressão criativa se pareça mais com uma manifestação artística entre fugaz, efêmera, irracional, emocional ou sensível. Ou isso tudo junto.
Considerando que nascemos pessoas criativas, mas ao longo da vida perdemos o jeito de utilizar a habilidade por conta de um bom número de fatores inibidores, pensava, como então se pode manter essa habilidade em forma?

Desde antes daquela pergunta até hoje, ainda não consigo pensar em outra resposta que não seja a prática. Prática constante. Em minhas aulas ou treinamentos empresariais desenvolvo atividades dinâmicas que buscam evidenciar para cada participante a importância dessa prática, com ações que se pode executar nos momentos em que não há nada mais a fazer, como, por exemplo, filas, salas de espera, trânsito, antes de pegar no sono, entre outros.

Uma atividade divertida que desenvolvi, de grande impacto para a percepção dessa necessidade da prática eu batizei de Face-a-Face. Ela demora apenas 1 minuto para ser executada, pode ser aplicada a grupos que vão de 2 a 2.000 pessoas, cuja discussão que vai de 15 minutos a uma hora pode abordar diferentes aspectos de como e/ou porque não utilizamos nosso potencial.
Como aplico desde há alguns anos, a quantidade de participantes que me escrevem meses ou anos depois de nossos encontros relatando como isso afetou suas vidas e suas carreiras é considerável e inspira para continuar a aplicar.

Claro que não basta apenas identificar onde o sapato aperta, é importante em seguida indicar um bom sapateiro, sugerir que se compre um calçado maior da próxima vez, que se invista numa boa marca de sapatos com modelagem confortável, que se ande de sandálias ou descalço, mas que fique claro que algo deve ser feito se se pretende mudar a situação atual de pouca ou nenhuma expressão criativa, resultado da falta de prática.

Essa atividade é um exercício para praticar pelo menos uma vez por semana, que leva apenas – ou no máximo – 10 minutos, e consiste em anotar numa folha ou dispositivo o que se pode mudar no ambiente em que a pessoa se encontra na hora da atividade. Batizei essa atividade de Sem Ideias. Claro que existe uma forma – muito simples – de aplicá-la, bem como uma meta a ser atingida, e não cabe aqui essa discussão, o foco é “como medir o potencial criativo de uma pessoa ou de uma equipe?”

Aquele questionamento de 2004 foi valiosíssimo para enriquecer minha percepção acerca do potencial criativo das pessoas. Com meu filho, Domênico Massareto, escrevi o livro “Potencializando a sua Criatividade”, ao mesmo tempo defini as formas de medir o potencial individualmente, bem como mapeando uma equipe, um departamento ou uma organização. Os indicadores extraídos apontam para as ações que devem ser tomadas em seguida, para ajustar o potencial às necessidades identificadas de seu uso, e as formas de manutenção quando as metas são atingidas.

Seja em aulas ou nas consultorias prestadas para organizações de diferentes segmentos, regiões ou porte, essas ações têm transformado a vida das pessoas e promovido a Inovação tão necessária para mercados competitivos.

E você, já sabe qual é o potencial criativo dos profissionais de sua empresa?